Guarda-costas de Drake alvejado numa altura de tensão entre o rapper e Kendrick Lamar
Incidente aconteceu na madrugada de terça-feira. Drake e Kendrick têm protagonizado um braço-de-ferro altamente mediático, trocando acusações graves em canções lançadas umas atrás das outras.
Um guarda-costas de Drake foi alvejado em Toronto, à porta da mansão do famoso rapper, na madrugada de terça-feira. Segundo a BBC, que alude a relatos feitos por testemunhas à imprensa canadiana, o segurança foi baleado várias vezes, tendo sido atingido no peito por um dos tiros. Escreve o jornal britânico The Guardian que o homem foi encaminhado para um hospital com ferimentos graves, mas que não colocavam a sua vida em risco.
Este episódio surge numa altura em que Drake e o americano Kendrick Lamar, duas figuras do rap moderno com um alcance excepcionalmente vasto, protagonizam um muito mediático braço-de-ferro (ou uma “beef”, no calão inglês habitualmente utilizado no hip-hop). Os dois têm, nas últimas semanas e a um ritmo alucinante, lançado músicas em que se atacam mutuamente, trocando acusações graves.
A briga começou no final de Março, quando o rapper Future e o produtor Metro Boomin, também muito populares actualmente, lançaram o seu álbum colaborativo We Don’t Trust You — ao qual se seguiu, apenas três semanas depois, We Still Don’t Trust You. Um dos temas desse primeiro disco chama-se Like that e conta com a presença de Kendrick Lamar, que aproveita o espaço que lhe é destinado para provocar Drake e J. Cole — que com ele costumam ser referidos como os três nomes com maior visibilidade do hip-hop contemporâneo.
Kendrick afirma-se muito superior à concorrência, rebatendo as palavras proferidas pelos dois visados em First person shooter (música de Drake com uma aparição de J. Cole). Pega, por exemplo, no facto de nessa canção Drake equiparar o seu enorme sucesso global ao de Michael Jackson. Kendrick repara que Prince viveu mais tempo do que o autor de Thriller (os dois também foram rivais). Com isto pretende sugerir que o seu legado perdurará muito mais do que o de Drake.
Pingue-pongue
Like that foi uma música de insulto e desrespeito (ou uma “diss track”, voltando ao calão inglês comum no hip-hop) que muito animou os fãs de todos os implicados. Como frequentemente acontece, os alvos reagiram. Cole foi o primeiro a responder e fê-lo com a música 7 minute drill, mas arrepender-se-ia dela menos de 48 horas depois de a lançar, apagando-a prontamente das plataformas de streaming e retirando-se deste bate-boca. Drake, por outro lado, entregou-se de corpo e alma a esta briga.
A sua primeira reacção surgiu a 13 de Abril, com a faixa Push ups. Seis dias depois, impaciente perante a não-resposta de Kendrick, faria provocações adicionais em Taylor made freestyle, tema em que recorreu a inteligência artificial para pôr o já falecido Tupac Shakur e Snoop Dogg também a falarem mal de Lamar — os gestores do legado de Tupac, lenda do hip-hop e ídolo do rapper americano, ameaçaram processar Drake, que entretanto removeu a música das plataformas de streaming (ainda assim, ela continua a poder ser ouvida no YouTube).
Depois de Lamar ter lançado Euphoria, a 30 de Abril, as canções começaram a cair em catadupa. A 3 de Maio (ou seja, na última sexta-feira), devolvendo o gesto de não dar ao adversário tempo para responder, Kendrick disponibilizou 6:16 in LA, cujo nome goza com a tendência de Drake para usar horas do dia e localidades nos títulos das suas músicas. Este responderia com Family matters. Lamar contra-atacou 37 minutos depois com Meet the Grahams (o nome de nascença de Drake é Aubrey Graham) e de seguida com Not like us. Drake ripostou com The heart part 6, “apropriando-se” da série de músicas intituladas The heart que Kendrick vem desenvolvendo há alguns anos. Tudo isto numa curtíssima janela de tempo compreendida entre os últimos dias 3 e 5.
Nestas canções, símbolos daquela que será a rivalidade mais mediática no hip-hop desde a que opôs na década de 1990 Tupac a Notorious B.I.G., dois rappers incontornáveis assassinados precocemente, estão presentes ataques pessoais e acusações graves. Drake acusa Lamar de violentar fisicamente a sua mulher; Lamar acusa Drake de ser pedófilo.
Parafraseamos o crítico Alphonse Pierre, que escreve sobre hip-hop na publicação digital Pitchfork: “A verdade sobre o rap é que todos os rappers são mentirosos. Mesmo que estejam a dizer a verdade, as fronteiras entre facto e ficção são sempre turvas. Uma ‘rap beef’ tem tudo que ver com desenterrar os podres, dizer tudo o que se puder dizer para expor uma verdade mais profunda [sobre o visado], quer se acredite realmente naquilo ou simplesmente se queira que o ouvinte acredite. É suposto fazer parte da retorcida diversão. A ‘beef’ entre Drake e Kendrick Lamar começou por ser assim, até que se tornou uma outra coisa. Aquilo que podem ser verdades — ou meias-verdades, ou mentiras — tornou-se uma campanha de desinformação que transformou a maior ‘beef’ de sempre no hip-hop num conflito confuso e feio.”
Paul Krawczyk, porta-voz da polícia de Toronto que acorreu à mansão de Drake, afirmou aos jornalistas, na terça-feira, que as autoridades ainda não possuíam muitas informações sobre o incidente que deixou ferido o guarda-costas de Drake. “Estamos numa fase precoce da investigação e ainda não temos, de momento, um motivo [dos disparos]”, disse, informando que a polícia estava a estudar as imagens das câmaras de vigilância para tentar obter pistas. Segundo o The Washington Post, as autoridades não conseguiram confirmar se Drake estaria ou não em casa na altura do incidente. Krawczyk assegurou, porém, que a equipa do rapper tem cooperado com a investigação.